segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pandora - Πανδώρα

Sabe qual é a melhor maneira de escrever? Estar em um ócio de domingo no fim da tarde, sozinha, acompanhada de uma caneca de café quente, forte e sem açúcar. Uma tarde de verão comum no Recife, onde uma simples brisa faz toda a diferença. Ultimamente não consigo fazer esse ritual de produção, esse mantra para organizar os pensamentos que brotam nas aulas de Filosofia da Arte e de História da Alimentação, nas conversas com os turistas que visitam o museu que trabalho ou pelas “arruanças” por Olinda e Recife. Ao contrário do que preciso para escrever, ando muito ocupada em estar entranhada nos ciclos sociais que faço parte e que cobram (e como cobram) atenção redobrada...

Sair cedo e voltar tarde nos dias úteis faz com que os fins de semana sejam dias ansiosamente esperados, intensamente aproveitados e não tão úteis como o resto da semana. Ando tentando seguir meus cronogramas e conciliar todos os ciclos em que normalmente um ser humano tem, o que acaba me deixando sem tempo para aquelas conversas que a gente tem dentro da própria cabeça. Sinto falta desses momentos de ócio, principalmente nos momentos em que me vejo negligenciando alguns projetos antigos e dando prioridade aos novos. Há quem diga que isso é defeito de fabricação do geminiano (risos).

Pensei em começar esse texto tirando um pouco o foco de mim e direcionar para algo sobre filosofias existencialistas e realistas em que temos que lidar todos os dias, porém nada mais filosófico do que você trazer sua própria realidade para um texto. A penseira do Dumbledore que a J.K. Rowling cria para que ele possa aliviar o peso dos pensamentos na cabeça é, para mim, a melhor descrição do que é o ato de escrever.

John William Waterhouse - Oil on Canvas
Pandora - J. W. Waterhouse (1896)
Recentemente, numa dessas arruanças, tive a oportunidade de conversar com um argentino pernóstico que ao descobrir que estudo história começou loucamente a me fazer questionamentos sobre mitologia grega. Me perguntou se eu conhecia Prometheus e se eu pudesse escolher algum dos personagens gregos para ser qual deles eu seria, entrei no jogo de provocações pedantes deste rapaz e respondi rapidamente que gostaria de ser Pandora. Ele intrigado pelo motivo que me levou a pensar tão rápido na resposta me
perguntou “Por que escolheu um personagem que é associado ao caos?” (caos no sentido de provocar desordem).

Li um texto sobre a obra de Francisco Brennand escrito por Roberta Aymar que dizia o seguinte; "Leituras enviesadas do mito, ao longo da história, trataram de metaforizar Pandora negativa e capciosamente como símbolo e corolário da incontrolável e inconsequente imprudência feminina. Ao estar diante da obra do artista, senti-me como uma Pandora recriada, reeditada anacronicamente. Todavia, não mais diante de uma caixa proibida, mas dentro da caixa dos espelhos da humanidade.”. E vi traduzido em paixão tudo aquilo que aprendi nas aulas da universidade, coisas que todo (aspirante a) historiador sabe – não existe verdade única.


Lembrem-se: um ex-gordo vê o mundo diferente de um magro!

Um comentário:

  1. Como eu desejei um domingo desses de chuva sem energia, um livro, um café uma grafite 0.7 e um papel acho que ta faltando esses dias ou não estamos conseguindo parar neles, são muitas andanças, não conheço Pandora mais sei que você tem uma beleza e um amor de Afrodite a sabedoria de Atena e a garra de Ártemis. muito bom iniciar o dia com um bom texto. deu ate vontade de portar no meu. bjão

    Ps. os Argentinos não tao com nada. ;P

    ResponderExcluir